Hoje (05), continuamos o segundo dia do curso “From Gene to Trait”, com mais discussões dedicadas ao Microbioma. Arthur Prudêncio de Araújo Pereira (Universidade Federal do Ceará) abordou o impacto das ações humanas e da desertificação no bioma Caatinga, destacando as consequências para o microbioma e a saúde do solo. Ele explicou as condições que levam à desertificação, resultante da combinação de atividades humanas e de climas desfavoráveis. Ambientes secos (subúmidos, semiáridos, áridos, áridos secos e hiperáridos) ocupam 41,3% da superfície global, abrigando 40% da população mundial. Estas regiões são marcadas por uma forte dependência da importação de alimentos. A Caatinga, com 28 milhões de habitantes, é a região seca mais populosa.
Pereira destacou que, à medida que a aridez do solo aumenta, a diversidade microbiana diminui. Esse resultado compromete a saúde do solo. Ele apresentou um estudo que mostrou como o microbioma se comporta em áreas nativas, degradadas e restauradas, observando que áreas degradadas perdem grande parte de sua saúde. Em uma área estudada, que ficou 24 anos fechada, houve recuperação parcial das suas funções.
Lucas Mendes (CENA/USP) falou sobre os avanços na produção agrícola ao longo do último século. Para ilustrar, considerou um exemplo emblemático: a soja, cuja produtividade por área quintuplicou graças a tecnologias como a fixação biológica de nitrogênio, o manejo de fertilizantes e a conservação do solo com plantio direto. Ele explicou que entender as interações entre plantas e microrganismos requer necessariamente estudar a rizosfera, definida por Hiltner (1904) como a porção do solo ao redor das raízes habitada por uma comunidade microbiana influenciada por compostos liberados pelas plantas. Mendes destacou que a rizosfera é crucial para a defesa e a nutrição das plantas, e citou um estudo mostrando que uma maior diversidade microbiana está associada a uma menor infecção por nematoides na soja. “Um solo biodiverso é essencial para as plantas recrutarem microrganismos que as protejam”, afirmou Mendes, concluindo que o microbioma da rizosfera pode ser uma ferramenta valiosa para a sustentabilidade agrícola.
Jorge Maurício Costa Mondego (Instituto Agronômico de Campinas) trouxe novidades sobre o microbioma do cafeeiro, abordando a dinâmica da rizosfera (mais variável) e da endosfera (mais estável). Ele destacou as Pseudomonas, bactérias gram-negativas benéficas que atuam como agentes antifúngicos, solubilizadoras de fósforo e promotoras do crescimento das plantas, com maior presença em plantas jovens. Mondego também compartilhou dados sobre a metagenômica dos cafeeiros, abordando um tema inovador: a transferência de microbioma como forma de controle de doenças
Leandro Nascimento Lemos (CNPEM/Ilum – Escola de Ciência) iniciou sua palestra com a frase “os dados são os recursos mais valiosos do século XXI” e destacou a evolução no processamento de dados de sequenciamento genômico. Ele comparou os avanços desde 1995, quando o primeiro genoma de Escherichia coli foi sequenciado, até chegar em 2024, quando mais de 300 mil genomas já haviam sido mapeados. Apesar disso, ele apontou a baixa representatividade brasileira de genomas de microrganismos nas principais bases de dados genômicos. Lemos discutiu estratégias para acelerar a montagem de genomas microbianos e mostrou como a inteligência artificial e a bioinformática podem prever genomas de microrganismos de água doce. Seu trabalho destacou o potencial dos metagenomas, especialmente aqueles de organismos que nunca foram cultivados, permitindo a reconstrução de cerca de 5 mil genomas.
A programação de terça-feira também incluiu apresentações curtas (short talks). João Vitor Silvério Avelar (UFSJ/Embrapa Milho e Sorgo) apresentou seu estudo sobre o uso de inoculantes bacterianos solubilizadores de fosfato para otimizar a adubação fosfatada no milho, como estratégia para reduzir a dependência de fertilizantes. Ele revelou que as práticas de manejo afetam a composição e a diversidade das comunidades microbianas, que demonstram resiliência a curto prazo.
Otávio Henrique Pinto (GCCRC) apresentou o microbioma de Vellozia nos Campos Rupestres. A equipe do GCCRC estudou duas espécies com diferentes estratégias de adaptação à seca: as sempre-vivas e as ressurgentes. As análises mostraram que as comunidades microbianas permanecem estáveis entre as estações seca e chuvosa, demonstrando resiliência. Otávio deixou questões em aberto, como a possibilidade de usar esses microrganismos para melhorar a performance de plantas agrícolas.